Todo autor é escritor, mas nem todo escritor é autor, será? Vamos desvendar.

Érica Martins
2 min readDec 17, 2020

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No primeiro texto que tive que escrever por aqui eu relatei que era revisora de obras criadas por escritoras que fazem parte de um mesmo fandom que eu e ainda por cima até falei rapidamente sobre essa questão de só se enxergar como autora assim que uma editora nota e publica a história como livro.

Indo mais além, acho que outras coisas além de uma afirmação em formato de livro físico e um título dado por uma editora, é também como é construída a interação entre quem escreve e quem lê.

Como já dito em outro texto, uma das diferenças entre histórias do mundo digital e histórias que são publicadas por editoras é que o sucesso da obra é inteiramente responsabilidade da relação entre quem escreve e seus leitores. Além disso, se pensado em fanfics, temos também que é, praticamente, uma pessoa da mesma comunidade escrevendo para outros. Uma pessoa que cumpre o mesmo papel de fã.

Então, considerando o papel decisivo do leitor e também esse cargo de quem escreve como “só mais um fã” (o que faz com que identidades e individualidades sejam “apagadas”), pode-se dizer que isso corrobora para esse “não-se-ver-como-autor”. Tanto por conta do que já foi exposto, quanto pelo fato de que nem mesmo os leitores enxergarem aquele outro fã como um autor de fato (aqui se repete a ideia de ligar o título ao fato de ter ou não um livro publicado por uma editora).

Uns dos grandes exemplos é quando se vê pelas redes sociais leitores cobrando para que a história siga certo rumo, limitando o que pode e o que não pode e até mesmo limitando os gêneros textuais. Escrever em uma plataforma digital também necessita se prender aos limites impostos pelo próprio público — de certa forma. E, então, uma perspectiva nasce: a de apenas ser uma escritora.

A real, é que a visão de “autor” é algo colocado num patamar que precisa ser desmistificado, que traz sempre a ideia de que um escritor é consagrado e que esse teve ideias nunca vistas para compor tal obra. Mas além de não condizer com a verdade, é importante notar que o autor de histórias em plataformas digitais ganha também o título de multitarefas.

Não desconstruir essas ideias só ajuda com a manutenção da marginalização das autopublicações em plataformas digitais e dificulta esse movimento de democratização que dá espaço para quem apenas ocupava a função de leitor antes ocupar agora a função de autor e escritor.

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Érica Martins

Uma típica garota que viaja em seus pensamentos sobre coisas banais e que, nas horas vagas, estuda Linguística.