Uma jornada ao descobrimento do mundo editorial — Texto #1

Érica Martins
3 min readNov 18, 2020

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A real dificuldade que enfrento nesse momento é de escrever sabendo que outras demais pessoas irão ler e formar uma opinião em cima do que for dito em cada postagem semanal que farei por aqui.

Falar e estudar sobre editoração se tornou umas das minhas coisas favoritas (que até então eu não almejava). Durante essa quarentena em que estamos enfrentando, passei a ser revisora de várias escritoras que vivem no mesmo meio e comunidade que eu.

Sobre a comunidade, é um lugar que, às vezes, traz conforto. Você abre sua rede social e lá está milhares de outras pessoas que são fãs dos mesmos artistas que você e que compartilham o mesmo gosto e pensamento sobre outras coisas triviais.

Indo direto ao que importa, toda essa introdução mais pessoal foi feita só para situar você, leitor, no verdadeiro assunto que quero tratar. Dentro dessa comunidade de fãs, o que mais se encontra são números extensos de histórias criadas e que contém os ídolos — de quem escreve — como personagens (as conhecidas fanfics). Esse é um dos gêneros mais lidos entre os jovens na atualidade.

E é exatamente esse tipo de história que eu reviso. Faço com que o texto final chegue mais adequado ao público daquela escritora. E como já haviam estudado Araújo (2013), Müller (2017), Jesus e Biota (2018), essa prática de publicar um produto editorial de forma independente, sem ajuda de editoras e recursos financeiros, se denomina como “autopublicação”. Todos esses estudiosos concordam que, com o passar do tempo e da modernização das tecnologias, a autopublicação foi crescendo.

Ora, não é algo novo, essa é uma prática que sempre acompanhou o mundo, mas com plataformas digitais e pessoas com mais acesso a elas, obviamente o número de escritores e de um público que demanda esse tipo de obra iria crescer.

Como Kawasaki e Welch (2012) já definiram, o alto índice de autopublicações (em grande maioria pela internet) desempenham uma maior democratização, em que qualquer pessoa pode publicar. E, ademais, uns dos fatores que mais diferem a autopublicação da publicação por editoras, é que todo esse “movimento” só é possível por conta da relação — não-intermediada por outros — entre autor e público, ambos são os responsáveis por até onde tal obra irá chegar e qual será seu nível de sucesso.

Mas, a real problemática que quero trazer aqui, é sobre a categorização das fanfics no meio literário. Por que esse é um gênero literário marginalizado? Apesar de conter pessoas públicas dentro das histórias, ainda sim são histórias únicas e criadas por tal autor. Enquanto várias obras — que um dia já foram autopublicadas — são vistas como arte sujeitas à críticas, as fanfics não são nem cogitadas e muito menos vistas como um conteúdo artístico.

Portanto, não é apenas uma marginalização de um gênero, mas também uma tentativa de apagar produções feitas pela massa que antes ocupava apenas o papel de leitor.

Muitas das escritoras com que trabalho conseguem espaços dentro de editoras independentes e, o caminho que percorrem até a realização da publicação da história num formato físico, é o mesmo que percorrem a, finalmente, se verem como autoras. Não é apenas o preconceito com esse tipo gênero que faz com que a marginalização cresça, mas também a ideia de ligar a imagem do livro como um atestado de que o texto, finalmente, se tornou uma obra suscetível à leitura e críticas (algo que deve ser desmistificado tanto para quem não consome quanto para os próprios escritores e leitores desse meio).

Ver as fanfics por esse lado é extremamente interessante e abre vários caminhos para debates, novas ideias, teorias e estudos. É também muito impressionante observar de perto a literatura ser algo mutável e que sempre se reinventa. Nada ligado à linguagem é estático.

Linguística — UFSCar/2020

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Érica Martins

Uma típica garota que viaja em seus pensamentos sobre coisas banais e que, nas horas vagas, estuda Linguística.