Através da dissertação de Gustavo Primo intitulada “Ver o livro como buraco negro: A formalização material da Antologia da Literatura Fantástica”, podemos ler e compreender um pouco mais sobre uma parte do universo editorial.

O assunto da vez é sobre objeto editorial e esse é um tema que casa muito bem com o que pretendo oferecer como trabalho final dessa disciplina. Quando falamos em objeto editorial, se pensa logo de imediato num livro, não é? Mas, o que esse objeto de fato é, imbrica também com a noção de contexto.

Dominique Maingueneau (2006) propõe um conceito conhecido como cenografia que sugere que o estudo de tal objeto precisa levar em conta aspectos gráficos, textuais, paratextuais e materiais, pois todos esses elementos constituem sentido sobre o objeto.

Ademais, para entender essa ideia de objeto editorial, também temos que ter noção sobre o que Debray propõe sobre mídium. Confesso que esse foi um conceito um pouco mais difícil para entender, mas Régis Debray diz: “[…] o mídium se define na articulação de um vetor de sensibilidade a uma matriz de sociabilidade”. Mas, resumindo, basicamente tem a ver com vários materiais que acabam por compor um outro material (fazendo com que este se legitime).

O objeto editorial que pretendo propor é a criação de um compilado, em ordem cronológica, da obra B.U. Universe (BTS Universe). Para explicar melhor, antes de se tornar B.U., a obra em questão era conhecida como “série Hwa Yang Yeon Hwa” (sendo este o nome de uns dos álbuns do grupo sul-coreano BTS, que possui The Most Beautiful Moment in Life como um título alternativo). Logo depois, ganhou o título de B.U. porque se tornou uma franquia sobre histórias fictícias em torno do grupo, criando, assim, um novo universo.

No B.U., encontramos notas, mensagens em videoclipes, jogos, webtoon, publicações pelas redes sociais, sites, vídeos curtos com os membros encenando, referências à outras obras e até mesmo, como já está planejado para futuramente, um drama televisivo que, juntos, constroem esse mundo fictício.

Jogo BTS Universe, pela Netmarble.

O mais interessante de tudo é que essas histórias não são publicadas em ordem cronológica e muito menos numa sequência que dê para entender claramente a mensagem, e é aí que os fãs entram.

A fã base do grupo cria teorias sobre a história e sobre o que, de fato, ela se trata. É o que, mais ou menos, Maingueneau aborda sobre o texto não ser apenas verbal, todos esses elementos como os jogos, os videoclipes, etc. fazem com que o B.U. por inteiro ganhe um sentido próprio pelas suas inúmeras interpretações.

Mas, obviamente, esse novo objeto editorial proposto conterá apenas o que já foi publicado pela empresa que administra o grupo, deixando as teorias de fãs de lado. Terá também códigos que levam diretamente o leitor para alguma mídia visual, como os pequenos filmes, e todas as notas serão traduzidas por mim mesma para o português.

A ideia ainda é nova e talvez precise de mais amadurecimento, mas por ora é o que pretendo propor.

Poster do cantor Kim Seokjin com a flor fictícia “Smeraldo”.

Referências Bibliográficas:

PRIMO, Gustavo. Ver o livro como buraco negro: a formalização material da Antologia da Literatura Fantástica, de Bioy Casares, Borges e Ocampo. 2019. 131 f. Dissertação (Mestrado em Estudos de Literatura) — Centro de Educação e Ciências Humanas, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2019.

--

--

Érica Martins

Uma típica garota que viaja em seus pensamentos sobre coisas banais e que, nas horas vagas, estuda Linguística.